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O Amor de Deus na Criação

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Enzo de Sousa dos Santos

Rosiane M. M. de Souza

Hortolândia - SP, 2019


“Deus criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. ” - Credo Nicenoconstantinopolitano

“No princípio Deus criou o céu e a terra” (Gn 1, 1). Com estas primeiras palavras das Sagradas Escrituras inicia-se a narrativa da criação do mundo e uma das mais belas declarações de amor da parte de Deus.

“[...] nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, [...] tudo foi criado por Ele e para Ele. [Ele] é antes de tudo e tudo nele subsiste” (Cl 1, 16-17). Deus tirou tudo do nada. Por vezes vemos certos profissionais da nossa sociedade que se gabam de lançar uma nova “criação”. Não importa o quão nova seja a moda, as máquinas ou a tecnologia, tudo terá que se basear em algo, em uma matéria-prima específica. “Criar” significa “fazer do nada”. Apenas Deus, cujo poder é infinito, pode criar. Quando Deus cria, não necessita de matéria-prima ou ferramentas para trabalhar; simplesmente quer que algo seja, e pronto [1]. “Deus disse: Faça-se a luz, e assim foi feita” (Gn 1, 3). Sem a luz, não há vida. Da luz tudo começa e, assim sucessivamente, se deu a obra da Criação nos seis dias relatados em Gênesis: “Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito, descansou do seu trabalho. Ele abençoou o sétimo dia e o consagrou” (Gn 2, 2-3).

Nos primeiros dias da Criação:

“[...] o Senhor manifestava generosamente a sua onipotência e se comprazia em tirar do nada as incontáveis maravilhas que compõem o Universo. Quando a luminosidade do Sol já marcava o decurso do dia e o colorido das plantas adornava a singeleza da Terra, Ele exerceu sobre este elemento seu poder criador e ordenou: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra’ (Gn 1, 26).” [2]

No exposto acima vemos claramente a ação da Trindade, o fluir do seu Amor entre as três pessoas, sem deixar sua unicidade e inteireza:

“A Santíssima Trindade é inseparável naquilo que são, e da mesma forma o são naquilo que fazem. Mas na única operação divina cada uma delas manifesta o que lhe é próprio na Trindade, sobretudo nas missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo” [3].

Tudo vem à existência sob ordem de Deus e tudo é criado segundo uma ordem crescente de dignidade. Deus é anterior à criação e todos os seres Dele receberam o dom da existência ou da vida. O homem e a mulher, “reis da Criação”, criados à imagem de Deus encontram-se no centro das obras criadas.

E porque Deus nos criou? Deus não se basta? Por que quis revelar-se na criação?

Explica São Boaventura: “Deus criou o mundo não para aumentar a sua glória, mas para manifestar a sua glória” (CIC 293). Porque Deus é Amor e o “Amor é difusivo, não se contém”, diz São Tomás de Aquino. O Amor tem necessidade de comunicar-se, não é egoísta, não é avaro, não se fecha em si, não retém para si suas riquezas e sim compartilha. E, como nos traz ainda o Livro da Sabedoria:

“Vós amais tudo quanto existe e não tendes aversão a coisa alguma que fizestes: se tivésseis detestado alguma criatura, não a teríeis formado. Como poderia manter-se qualquer coisa, se Vós não quisésseis? Como é que ela poderia durar, se não a tivésseis chamado à existência? Poupais tudo, porque tudo é vosso, ó Senhor, que amais a vida” (Sb 11, 24-26)

“Cada criatura possui bondade e perfeição própria” (CIC 339) e manifesta ao seu modo um raio de luz da sabedoria e bondade infinitas de Deus que conserva e governa com sua providência tudo o que criou, de um extremo ao outro, com força e suavidade. Uma mãe expressa seu amor incondicional por seu bebê enquanto prepara o enxoval, o quartinho, o gesta, pare e amamenta, cuidando de todos os mínimos detalhes. Assim também Deus se compraz na sua criação – “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom.” (Gn 1, 31) – e revela seu Amor a toda obra criada: “Amo-te com Amor eterno” (Jr 31, 3).

Deus revela seu Amor ao olharmos para dentro de nós e para fora de nós. Olhando para dentro, vemos como em um reflexo no espelho a nossa alma, a nossa mente e nos questionamos: “Quem sou eu?”, “de onde vim e para onde vou?”. Com Santo Agostinho somos impelidos a reconhecer que: “Deus está acima do que em mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo que eu tenho de mais íntimo”. Olhando para fora, se contempla no passageiro “Aquele que não passa” no canto dos pássaros, no belo voo das borboletas, nas flores – cada uma com seu perfume e beleza únicas –, as frondosas árvores, os rios, os mares, a brisa suave que toca a pele com uma delicadeza sem igual, refrescando o calor do sol que gera luz e vida, os vales e montanhas. Quem os terá formado? E com o salmista podemos dizer: “insondável é a sua grandeza” (Sl 145, 3).

Mas o homem, ao invés de contemplar a criação e amar Aquele que a criou, deixou arrastar-se pela soberba, orgulho e vaidade, deixando o perene Amor do seu Criador para tomar seu lugar na criação, e em seu coração busca mais o amor das criaturas e coisas criadas do que Aquele que tudo fez; perdeu-se em tantas correntes de pensamento e ideologias. Deixando de refletir a beleza do Criador, não mais O louva e rende glórias.

Faz-se necessário tomar o caminho de volta, encontrar o olhar do Criador que tudo mantém, sustenta e restaura em seu perene Amor – “eis que faço nova todas as coisas” (Ap 21, 5) – e reconhecer-nos partícipes desta obra a ser concluída, acolhendo nas estradas da vida as disposições pelas quais a divina Providência conduz a sua criação. “Deus guarda e governa, pela sua Providência, tudo quanto criou, atingindo com força dum extremo ao outro e dispondo tudo suavemente" (Sb 8, 1), porque "tudo está nu e patente a seus olhos" (Hb 4, 13).

“Cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. Até a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do seu Amor e, naqueles poucos segundos de existência, Ele envolve-o com o seu carinho” [4]. - Papa Francisco

O Senhor nos chama a entoarmos com a criação um hino de louvor:

“Quando olho para o teu céu, obra de tuas mãos, vejo a lua e as estrelas que criaste: Que coisa é o ser humano, para dele te lembrares, o filho do homem, para o visitares? ” - (Sl 8,4-5)
“Sede bendito, Senhor, por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. ” - (Sl 138, 14).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. TRESE, Leo. A fé explicada. 14. ed. São Paulo: Quadrante, 2015. p. 31.

  2. FERREIRA, Carmela Werner. Santa Hildegarda de Bingen: Médica dos corpos e das almas. Disponível em: <https://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/santos/santa-hildegarda-de-bingen-medica-dos-corpos-e-das-almas-143495 />. Acesso em: 21 nov. 2019.

  3. AQUINO, Felipe. O que é o mistério da Santíssima Trindade?. Disponível em: <https://cleofas.com.br/o-que-e-o-misterio-da-santissima-trindade />. Acesso em: 06 dez. 2019.

  4. FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si’. Disponível em: <http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html />. Acesso em: 29 dez. 2019.

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